Lula chora, fala em 'dedo de Deus' e que poderia ser pastor
Lula chora ao ouvir poesia em sua homenagem e abraça o governador de Pernambuco
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra
Foto: Ricardo Matsukawa/Terra
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chorou durante a festa de despedida organizada pelo governo de Pernambuco, no Marco Zero do Recife, nesta terça-feira.
"Não é normal um retirante sair fugido da fome de Caetés, se tornar presidente da República. Isso tem dedo de Deus", disse, em seu último evento oficial no Estado natal. Em tom de brincadeira, o presidente afirmou que poderá se tornar pastor quando deixar o cargo: "imagina eu fazendo um sermão em Garanhuns".
Antes de Lula pegar o microfone, repentistas fizeram rimas planejando uma eventual volta dele ao cargo. Um sugeriu que, a partir de 1º de janeiro, o presidente está apenas saindo de férias: "passa quatro anos fora e depois ele vem". "Ele voltará de novo, quem sabe futuramente", disse outro. O presidente não conseguiu segurar o choro em pelo menos dois momentos.
"Não quero chorar mais do que eu chorei. Político não sabe chorar. Enquanto o povo chora para fora, cafunga, o político chora para dentro, tem vergonha", afirmou. Ao ser recebido com uma declamação do poeta Antônio Marinho, com o bordão "Pernambuco agradece o presidente", Lula se emocionou e foi abraçado pelo governador Eduardo Campos (PSB).
Ele entregou a Lula a comenda - uma faixa nas cores de Pernambuco - da ordem dos méritos dos Guararapes, a maior do Estado. Lula agradeceu a distinção e em seguida garantiu que dormiria com ela. "Vou ter de entregar a minha no sábado e fico muito feliz com esta", disse.
Obras do governo
A uma multidão de 15 mil pessoas, Lula falou de obras do governo federal no Nordeste e lembrou a transposição do rio São Francisco com ironia. "Aqueles que tomam Perrier gelada, que me permitam levar água tratada ao povo brasileiro". Sobre a BR-101, disse que "nem na Alemanha eles têm estradas com tamanha qualidade. Hoje o povo nordestino está mais feliz".
Ao lembrar das eleições em que derrotado por três vezes consecutivas, Lula afirmou que, em 1989, entrou em um barraco humilde e ouviu de sua moradora que não teria o voto dela porque ele lhe tomaria tudo. "Eu pensava comigo: 'ela não tem nada e dizia que tinha medo de mim'. Como isso era possível?".
Antes de deixar o palanque, Lula deixou um recado: "a palavra de ordem é apoiar a companheira Dilma (Rousseff, presidente eleita). Ela será parceira de Pernambuco. Quanto a mim, estarei pelas ruas deste País". O presidente ainda viaja para Fortaleza (CE) e para Salvador (BA) antes de retornar a Brasília.
O evento desta noite serviu para anunciar o início das obras do centro cultural Cais do Sertão Luiz Gonzaga e a cessão de terreno da União para a Associação Criança Cidadã Meninos do Coque. O centro cultural representará um investimento de R$ 26 milhões com a criação de um museu de alta tecnologia e um memorial a Gonzagão. O local possibilitará cursos de danças, de música, estúdios, bibliotecas e midiateca. A associação recebeu um terreno de 14 mil m² no bairro da Cabanga para construção de salas de concerto.
Homenagens do povo
A despedida de Lula não emocionou apenas o presidente, mas também o público presente ao Marco Zero. Pouco antes do presidente discursar, a administradora Gisely dos Santos, 30 anos, estendia um banner com fotos de sua formatura. Entre elas, uma de Lula, com um chapéu de vaqueiro.
"Todas as vezes que Lula vem a Pernambuco - foram 40 nos dois mandatos - eu choro e me arrepio", afirmou. Ela disse que conseguiu acesso a uma universidade particular por meio do Programa Universidade Para Todos (Prouni), do governo federal. "Se não fosse assim, jamais teria conseguido me formar".
No palco, também se apresentaram a dupla de repentistas Valdir Perez e João Paraibano - que provocou sorrisos na plateia com rimas singelas e entonação nordestina carregada -, e o cantor Maciel Melo, que arrancou aplausos ao final do seu número com as palavras: "no futebol, Pelé; nas artes plásticas, Cândido Portinari; e na política, Luiz Inácio Lula da Silva".
- Especial para Terra