domingo, 15 de março de 2009

Sem "procuração", Lula discute droga e ignora Cuba e Venezuela em encontro com Obama



"Obama tem oportunidade histórica de melhorar relações com América Latina e a África", afirmou o presidente brasileiro






SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Washington

Apesar de ter chegado ao encontro com o papel informal de porta-voz dos países latino-americanos que não gozam de boas relações com os EUA, como Bolívia, Cuba e Venezuela, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse que não falou especificamente de nenhum país em seu encontro com Barack Obama, pelo menos segundo seu relato posterior a jornalistas na Embaixada do Brasil.

"Eu não tratei de Cuba nem de Venezuela especificamente porque não tenho procuração de nenhum governo para tratar de problemas específicos", disse Lula -o presidente venezuelano, Hugo Chávez, havia dito que tinha dado "autorização" a Lula para que falasse em nome dele com Obama.
Joashua Roberts/Efe

Na coletiva de ontem, o norte-americano praticamente ignorou o assunto América Latina, apesar de Lula ter dito que sua eleição era historicamente importante para a região já no início. O democrata fez menção ao 5º Encontro das Américas, em Trinidad e Tobago, e só.

Mais tarde, Lula daria outros detalhes. "Eu converso muito com o Chávez e ele tem expectativa sobre o presidente Obama de que possa melhorar a relação, e o Obama tem boa vontade, a mesma coisa com [o presidente boliviano] Evo Morales", relatou. "Podemos construir na América Latina uma nova relação, de confiança."

No geral, seu discurso ao democrata, disse Lula, foi pela não-ingerência. "Eu disse que os EUA precisam ter um olhar para a América Latina de parceria, não de fiscal, de que vai combater o narcotráfico ou de que vai vigiar alguma coisa ou combater a luta armada", afirmou. "Isso não existe mais."

O brasileiro disse ter avisado a Obama que vai propor ao Unasul (União das Nações Sul-Americanas) a criação de um conselho de combate ao narcotráfico similar ao de Defesa, para "não ficar dependendo da ingerência de ninguém numa coisa que nós temos de resolver pelas próprias mãos".
Gerald Herbert/AP
Obama pode aproveitar para visitar o Brasil após 5º Encontro das Américas, em abril
Obama pode aproveitar para visitar o Brasil após 5º Encontro das Américas, em abril

Então, cutucou o país: "Os outros que cuidem de tomar conta dos consumidores, que aí quem sabe a gente pode resolver com mais responsabilidade o narcotráfico". A ideia, segundo Lula, surgiu de uma conversa sua com o presidente colombiano Álvaro Uribe.

O país, um dos maiores produtores de cocaína do mundo, é o maior receptor de ajuda financeira e militar norte-americana na América do Sul. Desde que Morales expulsou a DEA (agência antidrogas norte-americana) da Bolívia, os EUA pedem ao Brasil mais envolvimento no combate ao tráfico de drogas regional.

Lula dava assim seu recado de volta à Casa Branca, de que pretende convencer os países da região a tomar a rédea do assunto, que representa uma das principais áreas de atuação dos EUA no continente. "Aos poucos, os países da América Latina estão percebendo que nós precisamos deixar de ser dependentes, porque fica todo o mundo esperando que o país rico vá lá fazer as coisas que nós deveríamos fazer", disse Lula

sábado, 14 de março de 2009

Lula destaca protecionismo dos EUA; Obama fala em "respeito entre os países"




da Folha Online

Em encontro com Barack Obama com a presença da imprensa na Casa Branca nesta tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abordou mais uma vez a questão do protecionismo adotado pelos Estados Unidos.

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"Estados Unidos e Brasil têm um fluxo na balança comercial de US$ 54 bilhões. Estados Unidos exportam US$ 26 bilhões para o Brasil, e o Brasil exporta US$ 28 bilhões para os EUA. Está claro que, para o tamanho dos dois países, é muito pouco o nosso fluxo de balança comercial", disse Lula. "O problema é que todo país só quer vender, ou seja, cada país quer ter superávit comercial, e não é possível. O comércio exterior é uma via de mão dupla. Você vende e compra para manter o equilíbrio. E nós precisamos manter isso. Protecionismo, neste momento, agravaria a crise econômica"
Yuri Gripas/Reuters

Lula é o primeiro presidente latino-americano a ser recebido por Obama na Casa Branca

"Eu espero que os Estados Unidos e o Brasil possam amadurecer nos seus pensamentos [...] e apresentar ao mundo uma solução para o sistema financeiro, que precisa de regulamentação, e isso é inexorável. O tamanho da regulamentação vamos descobrir. Eu sou otimista", continuou o presidente brasileiro.

Antes, Obama havia afirmado que o objetivo é "não retroceder nos avanços que já aconteceram". "O acordo que nós já conseguimos com o Brasil não pode ser violado. Tenho certeza que o presidente Lula também vai tomar atitudes semelhantes no Brasil para garantir que o comércio mundial não retroceda. [...] Vamos assegurar que o respeito entre os dois países construa um caminho bom para ambos. Não vamos construir muros em torno de nossos países."

Relações

Lula é o primeiro presidente latino-americano a ser recebido na Casa Branca. Ele ressaltou o papel do presidente americano na região. "Obama tem a oportunidade histórica de melhorar as relações com a América Latina e a África", afirmou o presidente brasileiro. O democrata afirmou que espera visitar o Brasil em breve.

À imprensa, ao lado de Obama, Lula destacou ainda pontos que considera importantes para superar a crise econômica mundial, deflagrada nos Estados Unidos.

"O presidente Obama e eu estamos convencidos de que essa crise econômica pode ser resolvida com decisões políticas no próximo G20", disse Lula. "Precisamos restabelecer a credibilidade e a confiança da sociedade no sistema financeiro. Precisamos restabelecer a credibilidade e a confiança da sociedade nos governos. Para isso, precisamos fazer com que o crédito volte a fluir dentro dos países e também facilitar o comércio entre os países."